- Área: 120 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Beatriz Azevedo
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Fabricantes: LUZILED
Descrição enviada pela equipe de projeto. Quando os clientes nos abordaram o processo ia já avançado. Tinham comprado o apartamento ainda em fase de construção, com gostos muito específicos admitiram-nos que tentaram adaptar o originalmente proposto aos seus próprios desejos, através de um processo guiado por pura intuição. O resultado final foi, segundo o casal, muito desanimador. De tal forma que andavam já à procura de outros locais onde pudessem garantir o seu sonho de viver na casa ideal no centro do Porto. Neste momento já conscientes que necessitavam de um arquiteto para os orientar. Numa conversa de café descobriram o nosso trabalho através de amigos que eram já nossos clientes. Ficaram apaixonados pelo projeto e decidiram que deveríamos ser nós a reorientar o espaço. Redesenhamos o espaço e voltaram a apaixonar-se pelo apartamento. No entanto, naquele interregno entre o desânimo e o reacender da chama deram espaço a outro amor. Uma pequena casa na Bonfim “com jardim e tudo”, tal como sempre sonharam. Criou-se um dilema que ficou resolvido pela aquisição desse segundo amor. Neste momento possuíam dois imóveis mas a disponibilidade financeira para apenas um. Avançaram com a casa do Bonfim deixando o apartamento em standby. Propusemos que nos disponibilizassem o apartamento para Alojamento local. Gostaram da ideia e avançamos com o projeto proposto por nós. O desenho do projeto inicial foi pautado por vontades muito especificas: “Queremos um apartamento que nos faça sentir que estamos num bom hotel”.
Considerando a fase avançada em que entramos no processo, e tendo em conta que se tratava de uma intervenção numa pré-existência, tivemos de nos adaptar às infraestruturas base e distribuição espacial previstas no projeto anterior. Questões como a localização do balcão da cozinha, wc, escadas, etc foram respeitadas, e o trabalho executado sobre estas condicionantes. q qNum segundo nível de adaptação tivemos de repensar ligeiramente o projeto para se tornar viável para Alojamento local. Considerando a especificidade do processo, a construção da nossa intervenção arquitetônica foi pensada para ser executada de forma faseada. No quarto por exemplo, por cima da zona de duche propusemos originalmente a criação de uma zona lounge, onde se colocará uma banheira para usufruir de um momento de maior tranquilidade, a estrutura foi preparada, mas a finalização do espaço e o acesso a este piso só ficará concluída mais tarde. Entendendo no entanto as possíveis variantes do destino do apartamento no futuro, o espaço foi pensado para poder servir uma série de outras funções, consoante as necessidades ou vontades dos futuros adquirentes, não ficando assim limitado a uma única função. Considerando as limitações da intervenção decidimo-nos pela utilização de alguns elementos básicos e de fácil adaptação para re-caracterizar o espaço. A iluminação artificial, elemento primordial no nosso processo criativo, foi um deles. Trabalhamos quase na sua totalidade com luz indireta. A colocação das fontes lumínicas é cuidada de forma a tirar o máximo partido da reflexividade das paredes brancas. A intenção foi a de banhar o espaço com uma luz quente que enchesse o espaço. Este é um gesto de grande relevância na sensação espacial. Tendo em conta o generoso pé-direito da área a intervir era primordial conseguir uma luz que preenchesse o espaço de forma uniforme, atribuindo presença ao vazio em conjugação perfeita com as superfícies. A temperatura da luz é primordial para equilibrar o neutralidade da cor branca dominante.
Também os elementos vegetais assumem um papel primordial no todo. Por cima da ilha da cozinha criamos uma grelha em madeira que para além de elemento decorativo, que ajuda a preencher o espaço e reforçar a presença do elemento “cozinha”, oculta o aparelho de exaustação e serve de apoio a quem cozinha. A intenção é permitir que os moradores preencham os vazios da grelha com especiarias frescas, que possam ir retirando à medida das necessidades culinárias. É um espaço com bastante luz, sem nunca no entanto estar exposta a luz direta, condições essenciais para este tipo de vegetação. A mezzanine pré-existente, situada acima do volume localizado entre a entrada e a cozinha foi completamente adaptada. Originalmente desenhada para funcionar como uma “mancave”, a pedido especifico do cliente, foi sofrendo alterações ao longo do processo na intenção de criar um espaço o mais mutável possível. Assim, o que hoje cumpre a função de um segundo quarto ,valorizando o potencial de arrendamento do apartamento, amanhã poderá voltar a ser convertida em “mancave”, num escritório ou em qualquer outro espaço previnindo a adaptabilidade que possa ter de cumprir no futuro. A intenção foi a de intervir no sentido de criar uma arquitetura com boa capacidade de adaptação. Estamos hoje a redesenhar a cidade de amanhã e é importante pensar as intervenções no sentido de poderem garantir o máximo de versatilidade possível. Se é verdade que as afirmações estéticas acabam por ser cristalizações de ideias mais ou menos fixas a uma época, tal como o minimalismo o barroco ou o gótico, a verdadeira arquitetura é constante e deve ser mutável. Entendemos as cidades como organismos vivos em constante mutação, e no caso do Porto atual isso é por demais evidente. Assim sempre que intervimos em pré-existências, mais ainda em áreas consolidadas como o centro do cidade, devemos abraçar esta percepção e cuidar de desenhar cada célula deste organismo o mais mutável e versátil possível, porque as vontades de hoje não são as de amanhã. A verdadeira arquitetura é a que serve o presente com os olhos no futuro.